quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Monstros e outras coisas de criança

Esse seria um nome provável caso Monsters and Other Childish Things ganhasse uma versão em português. Me parece que há um pequeno filão de jogos de representação voltados para uma espécie de horror infantil. Entre eles podemos destacar o Little Fears (que eu, na minha mania de pensar traduções, chamo de Pequenos Pavores), Grimm e o suplemento Innocents do Word of Darkness, lançado este ano pela White Wolf. Aliás, como comentamos no tópico sobre RPGs divinos, a White Wolf com certeza trabalha forte com pesquisa de tendência de mercado.

Em Monsters (vamos abreviar, por favor) os personagens são crianças e seus monstros de estimação. Os monstros são amigos imaginários que apenas as crianças podem ver, assim como todo o restante do mundo perigoso, opressivo e fantástico que as cerca. A imaginação é a um só tempo bela e perigosa, a fantasia asséptica dos adultos é uma mentira, o mundo das crianças e seus horrores é perigoso, emocionante, cheio de aventuras e ameaças. Existe uma longa seção do livro onde o autor Benjamin Baugh mostra todas as possíveis químicas a serem criadas para dar diferentes tons para as histórias. Cito agora o mesmo trecho que o usuário Unshaven usou em sua resenha no RPG.net para ilustrar a idéia geral do autor sobre o espírito de seu livro:


"O que você fez hoje?"

"Nós encontramos o tesouro dos piratas, mas ele estava amaldiçoado e então tinham zumbis, aí o Gnarlytoes comeu eles e então nós tomamos sorvete na casa da Júlia."

"Puxa, parece que você andou realmente ocupado! Tomara que tenha sobrado espaço para o jantar"


Várias referências podem ser citadas para ajudar a entender o clima de Monsters, a mais óbvia é também a que menos explica: Pokemon. Embora seja um jogo sobre crianças e seus monstros maravilhosos que lutam, devoram uns aos outros e fazem peripécias, o jogo não tem as mesmas cores e o foco em competições do desenho animado da Nintendo. Calvin e Haroldo (saudosa tira de Bill Waterson) talvez seja a imagem ideal, mas os imagine brincando no universo das Desventuras em Série de Lemony Snicket caso esse fosse habitado pelos amigos do Cthulhu.

Esse jogo começou pequeno, com uma publicação humilde de 48 páginas da Arc Dream (Godlike, Wild Talents) em 2007 e, devido ao seu sucesso, ganhou uma versão "Completamente Monstruosa" de 180 páginas este ano. Monsters se apóia no ORE (One Roll Engine) o sistema de rolamento único criado por Greg Stolze presente nos outros títulos da editora. Nessa mecânica, os jogadores constroem paradas de dado de forma semelhante a presente no sistema Storyteller da White Wolf, mas ao invés de tentar alcançar um resultado ou número de sucessos o objetivo é formar combinações de dados com o mesmo valor. Essas combinações determinam a "largura" e a "altura" do resultado, onde largura é sua potência e altura sua precisão. Com isso, uma combinação de quatro dados com o valor 2 é mais potente, mas menos precisa que uma combinação de dois dados com valor 7. A partir dessa premissa, cada jogo cria seus critérios para escolha dessas combinações ou introduz dados especiais a esse rolamento.

Este ano, Monsters ganhou dois suplementos: The Dreadful Secrets of Candlewick Manor que trata de um orfanato cheio de segredos nefastos, talvez a versão mais pesada e dramática do jogo, com menos aventura e mais traumas de infância e Curriculum of Conspiracy, um cenário típico de escola norte americana com valentões e mistérios.

Por fim, seguem outros links para expandir a leitura:

3 comentários:

felipe disse...

Bem legal seu artigo rômulo, havia ouvido falar por alto sobre o título mas agora fiquei com muita vontade de joga-lo. Eu tenho o livro do Greg Stolze, Reign, que usa o mesmo sistema, e ele é bastante funcional quando se pega a prática.
Por algum motivo ainda não comprei o inocents, e estou aguardando a prometida nova edição de little fears, mas o monster parece que pode ser uma aquisição muito bem vinda.

Anônimo disse...

Muito legal! Eu já conhecia o One Roll Engine, é interessante ver como ela pode ser aplicada.

Anônimo disse...

Muito boa a resenha, e muito interessante, continue sempre com esses jogos de "fora da caixa". Valeu